quinta-feira, 17 de junho de 2010

Ensaio sobre a Cegueira _ Saramago


"Este é um livro francamente terrível com o qual eu quero que o leitor sofra tanto como eu sofri ao escrevê-lo. Nele se descreve uma longa tortura. É um livro brutal e violento e é simultaneamente uma das experiências mais dolorosas da minha vida. São 300 páginas de constante aflição. Através da escrita, tentei dizer que não somos bons e que é preciso que tenhamos coragem para reconhecer isso." Essas foram as palavras de Saramago sobre este grande livro. Tenho que admitir que somente o li depois de ver o filme, e após lê-lo fiquei imaginando como um homem pode criar um texto tão complexo em sua totalidade e mesmo assim tão simples de ser entendido, pensar e retratar a alma humana não é mesmo uma dificuldade para este autor. Este foi o primeiro livro que li de Saramago e este superou todas as minhas expectativas. Este livro faz uma intensa crítica aos valores da sociedade, e ao que acontece quando um dos sentidos vitais falta à população e percebemos então que, apesar de toda a nossa concepção de civilização, somos apenas animais, claro, que a sociedade em que vivemos controla isso em nós, mas e se esta sociedade não existisse mais como conhecemos? Seria então impossível controlar esse lado bestial humano?
A tragetória começa num único homem, durante a sua rotina habitual. Quando está sentado no semáforo, este homem tem um ataque de cegueira, e é aí, com as pessoas que correm em seu socorro que uma cadeia sucessiva de cegueira se forma… Uma cegueira, branca, como um mar de leite e jamais conhecida, alastra-se rapidamente em forma de epidemia. O governo decide agir, e as pessoas infectadas são colocadas em uma quarentena com recursos limitados que irá desvendar aos poucos as características primitivas do ser humano. A força da epidemia não diminui com as atitudes tomadas pelo governo e depressa o mundo se torna cego, onde apenas uma mulher, misteriosa e secretamente manterá a sua visão, enfrentando todos os horrores que serão causados, presenciando visualmente todos os sentimentos que se desenrolam na obra: poder, obediência, ganância, carinho, desejo, vergonha; dominadores, dominados, subjugadores e subjugados. Nesta quarentena esses sentimentos se irão desenvolver sob diversas formas: lutas entre grupos pela pouca comida disponibilizada, compaixão pelos doentes e os mais necessitados, como idosos ou crianças, embaraço por atitudes que antes nunca seriam cometidas, atos de violência e abuso sexual, mortes,…
É interessante pensar como todo o enredo se dá a partir da "visão" dessa única mulher, que não é afetada pela doença. Saramago trabalha magistralmente com nossas emoções. Eu gostei muito. Espero que você goste também. Volto com mais depois. Abraços!