"Este é um livro francamente terrível com o qual eu quero que o leitor sofra tanto como eu sofri ao escrevê-lo. Nele se descreve uma longa tortura. É um livro brutal e violento e é simultaneamente uma das experiências mais dolorosas da minha vida. São 300 páginas de constante aflição. Através da escrita, tentei dizer que não somos bons e que é preciso que tenhamos coragem para reconhecer isso." Essas foram as palavras de Saramago sobre este grande livro. Tenho que admitir que somente o li depois de ver o filme, e após lê-lo fiquei imaginando como um homem pode criar um texto tão complexo em sua totalidade e mesmo assim tão simples de ser entendido, pensar e retratar a alma humana não é mesmo uma dificuldade para este autor. Este foi o primeiro livro que li de Saramago e este superou todas as minhas expectativas. Este livro faz uma intensa crítica aos valores da sociedade, e ao que acontece quando um dos sentidos vitais falta à população e percebemos então que, apesar de toda a nossa concepção de civilização, somos apenas animais, claro, que a sociedade em que vivemos controla isso em nós, mas e se esta sociedade não existisse mais como conhecemos? Seria então impossível controlar esse lado bestial humano?
A tragetória começa num único homem, durante a sua rotina habitual. Quando está sentado no semáforo, este homem tem um ataque de cegueira, e é aí, com as pessoas que correm em seu socorro que uma cadeia sucessiva de cegueira se forma… Uma cegueira, branca, como um mar de leite e jamais conhecida, alastra-se rapidamente em forma de epidemia. O governo decide agir, e as pessoas infectadas são colocadas em uma quarentena com recursos limitados que irá desvendar aos poucos as características primitivas do ser humano. A força da epidemia não diminui com as atitudes tomadas pelo governo e depressa o mundo se torna cego, onde apenas uma mulher, misteriosa e secretamente manterá a sua visão, enfrentando todos os horrores que serão causados, presenciando visualmente todos os sentimentos que se desenrolam na obra: poder, obediência, ganância, carinho, desejo, vergonha; dominadores, dominados, subjugadores e subjugados. Nesta quarentena esses sentimentos se irão desenvolver sob diversas formas: lutas entre grupos pela pouca comida disponibilizada, compaixão pelos doentes e os mais necessitados, como idosos ou crianças, embaraço por atitudes que antes nunca seriam cometidas, atos de violência e abuso sexual, mortes,…
É interessante pensar como todo o enredo se dá a partir da "visão" dessa única mulher, que não é afetada pela doença. Saramago trabalha magistralmente com nossas emoções. Eu gostei muito. Espero que você goste também. Volto com mais depois. Abraços!
Você disse tudo, ótimo livro! Já estou comprando outro dele, que não li, "Evangelho segundo Jesus Cristo" Abraço!
ResponderExcluirO filme é simplesmente F-O-D-A e procurei por esse na livraria local, não encontrando adquiri "O homem duplicado" que espero resenhar em breve por aqui. Abração e excelente resenha.
ResponderExcluirAnderson "Japão" Brandão
"Ensaio sobre a cegueira", bem. Li esse livro ano passado e tbem AMEI. Foi o único livro de José Saramago que li. e gostei. Tambem superou todas as minhas expectativas... A mulher do médico de mocinha da história, num determinado momento passar a ser a grande vilã vingadora... Há tbem um filme estrelado pela atriz brasileira Alice Braga, o qual tbem pretendo alugar em alguma locadora. E agora pretendo adquirir o livro "clarabóia" deve ser tão bom quanto o "ensaio..."
ResponderExcluirSou Karlos.